Agricultores do sertão de Pernambuco, em cidades como Santa Cruz e Ouricuri, estão adaptando sementes crioulas para resistirem à seca e garantir alimentos. Essas sementes, conservadas por guardiões locais, mantêm tradições e promovem autonomia agrícola.
O cultivo de sementes crioulas reduz custos, diminui dependência de empresas e fortalece a cultura regional, mesmo diante das mudanças climáticas e da padronização agrícola.
O papel das sementes crioulas
Sementes crioulas podem ser nativas ou adaptadas ao clima local por agricultores ao longo do tempo. Elas possuem valor cultural e emocional para comunidades, famílias e regiões, sendo fundamentais para a autonomia dos agricultores.
Essas sementes são cultivadas sem transgenia e com mínimo uso de insumos, o que as torna acessíveis para agricultores familiares com poucos recursos. O processo de adaptação ocorre por meio da observação e seleção das melhores plantas, prática transmitida entre gerações.
Em períodos de extremos climáticos, como a seca no semiárido, as sementes crioulas se mostram estratégicas. “Quanto mais sementes nós temos guardadas, melhor para quem vive no semiárido”, relatam agricultores, destacando que sementes comerciais nem sempre se adaptam ao clima local.
Desafios e perda de variedades
A produção padronizada e globalizada de sementes, focada em alta produtividade, tem reduzido a diversidade de grãos tradicionais. Agricultores relatam que, antigamente, era possível encontrar diversos tipos de milho, como roxo, preto e colorido, mas hoje predominam poucas variedades, o que prejudica a diversidade alimentar e cultural.
Segundo uma pesquisadora da Embrapa, fatores como mudanças climáticas, envelhecimento da população rural, conflitos de terra e desmatamento também contribuem para a diminuição das sementes crioulas.
Bancos comunitários e estratégias de diversidade
Bancos de sementes
A preservação das sementes crioulas ocorre também por meio de bancos comunitários geridos por agricultores familiares. Um exemplo consolidado é o Polo da Borborema, na Paraíba, onde bancos funcionam em sistema de empréstimo: quem retira sementes deve devolver 50% a mais na colheita, sem uso de agrotóxicos ou transgenia.
Esses bancos atendem não só à comunidade local, mas também a vizinhos em situações de emergência, como ocorreu durante uma grande seca em 2020.
Diversidade no plantio
O cultivo de diferentes tipos de uma mesma cultura é comum entre agricultores do semiárido. Chico Peba, por exemplo, planta milho ligeiro e milho tardio para garantir colheita, independentemente do regime de chuvas. Roselita, de Remígio (PB), destaca que a variedade de alimentos como feijão, jerimum, batata-doce, fava e milho garante soberania e segurança alimentar, mesmo diante de variações climáticas.
Essa estratégia fortalece a resiliência das famílias, preservando tradições e assegurando a nutrição no sertão.