Pesquisadores do ICMBio realizaram uma expedição inédita ao arquipélago de Martin Vaz, a 1.200 km da costa do Espírito Santo, em junho. O grupo estudou peixes, corais, tartarugas e tubarões, além de investigar o Monte Columbia, uma ‘montanha’ submersa. A área, praticamente intocada, revelou espécies possivelmente inéditas.
Utilizando tecnologia avançada, a equipe coletou imagens e amostras em profundidades pouco exploradas. O material agora passa por análise para confirmar novas descobertas e ampliar o conhecimento sobre os ecossistemas marinhos do Brasil.
Expedição ao arquipélago de Martin Vaz
O arquipélago de Martin Vaz é uma formação vulcânica com cerca de três milhões de anos, localizado a 1.200 quilômetros da costa brasileira. Junto à Ilha da Trindade, compõe a cadeia Vitória-Trindade, formada por montanhas de vulcões inativos que se estendem desde Vitória até Martin Vaz.
Durante 17 dias de expedição em junho, especialistas do ICMBio realizaram o levantamento de centenas de espécies de peixes, corais, tartarugas e tubarões. O objetivo era aprofundar o conhecimento sobre as pequenas ilhotas oceânicas e o Monte Columbia, um monte submerso próximo à região.
Segundo João Carlos Thomé, coordenador do Centro Nacional de Conservação das Tartarugas Marinhas e Biodiversidade do Mar do Leste, a expedição reforça a importância ambiental do arquipélago e a necessidade de preservação. “Realizamos essa primeira expedição para fazer um levantamento mais detalhado dessas duas áreas, Martin Vaz e o Monte Columbia. É um trabalho inédito sendo feito do local mais distante da costa brasileira”, afirmou Thomé.
Tecnologia e métodos de pesquisa
A equipe utilizou três tipos de mergulho: a metodologia BRUV, um sistema de vídeo subaquático remoto com isca; o ROV, veículo operado remotamente para filmagens em grandes profundidades; e o mergulho humano. João Batista Teixeira, coordenador técnico da expedição, adaptou os veículos remotos com lanternas potentes e câmeras de alta definição, permitindo a coleta de imagens e amostras em ambientes de pouca luz.
Entre as imagens registradas estão tubarões nadando entre corais, ninhos do peixe Malacanthus e cardumes diversos. “Com essas imagens de alta resolução, conseguimos compreender melhor o ambiente, realizar censo de peixes e analisar a cobertura de organismos marinhos”, destacou Teixeira.
Descobertas e perspectivas
O oceanógrafo João Luiz Gasparini, da Fundação de Tecnologia da Universidade Federal do Espírito Santo, ressaltou os avanços proporcionados pela tecnologia, que evita riscos de mergulhos profundos e amplia o mapeamento de corais, esponjas, peixes e crustáceos. “Estamos simplesmente sem palavras para revelar a riqueza de informações trazidas nessa expedição”, afirmou Gasparini.
Os pesquisadores agora analisam o material coletado para confirmar se há novas espécies, especialmente um pequeno peixe encontrado a 120 metros de profundidade. “Estamos fazendo um estudo genético, vamos comparar com outras espécies do gênero, comparar cores, proporções, e aí a certeza mesmo só vem após a análise”, explicou Gasparini. O animal, semelhante a garoupas e badejos, mede até seis centímetros e vive em áreas de pouca luz.
Durante a expedição, foi descoberta também uma caverna submarina que atravessa Martin Vaz de ponta a ponta, reforçando o caráter inexplorado da região. O trabalho contribui para ampliar o conhecimento sobre ecossistemas marinhos e destaca a importância da conservação de áreas remotas e pouco impactadas pela presença humana.