As áreas protegidas mais relevantes para a biodiversidade da Amazônia são justamente as que menos recebem investimentos em gestão, aponta estudo recente. A falta de estrutura e orçamento compromete a capacidade dessas regiões de conter a perda de espécies e cumprir metas globais de conservação.
Especialistas defendem a necessidade de priorizar recursos e fortalecer a participação comunitária para tornar a proteção mais eficaz, especialmente diante do aumento do desmatamento em áreas vulneráveis.
Desafios de gestão e exemplos de sucesso
Para que áreas protegidas cumpram seu papel de conservar a biodiversidade, é fundamental contar com equipes técnicas capacitadas e orçamento suficiente para ações estratégicas, como planos de manejo e monitoramento ambiental. O envolvimento do poder público, sobretudo nas unidades estaduais mais vulneráveis, é central, mas parcerias e programas complementares também têm papel relevante.
O Programa Áreas Protegidas da Amazônia (ARPA), há mais de 20 anos, apoia a implementação de unidades de conservação na região, promovendo conselhos gestores com participação comunitária, fortalecimento da proteção e monitoramento. Das 261 áreas analisadas, as 117 apoiadas pelo ARPA apresentaram melhores níveis de gestão.
Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas, comunidades locais participam da vigilância, definem regras de uso dos recursos e monitoram a pesca, resultando em recuperação de peixes e aumento de renda. A experiência de Mamirauá, apoiada pelo ARPA, evidencia que investimento em governança local e participação comunitária tornam a proteção mais eficaz.
Em contrapartida, unidades em áreas de alto desmatamento, como a APA Triunfo do Xingu, têm gestão mais frágil e lideram a perda de floresta em 2024, agravando riscos para espécies ameaçadas e comunidades.
Estratégias e urgência nos investimentos
O artigo propõe uma estratégia de priorização dos investimentos, essencial para que o Brasil cumpra metas como proteger 30% do território até 2030, conforme o Marco Global de Kunming-Montreal. Os autores defendem foco em 65 áreas de alto valor ecológico e maiores deficiências de gestão, para evitar a extinção de espécies.
Estudos recentes estimam que o custo anual mínimo para conservar 80% da Amazônia varia entre US$ 1,7 e 2,8 bilhões. No entanto, apenas US$ 341 milhões anuais seriam necessários para gerir as unidades federais, mas em 2016 o gasto efetivo foi só 11% desse valor, mostrando a urgência de ampliar e racionalizar os recursos.
Além do financiamento, é preciso fortalecer a fiscalização, combater atividades ilegais e promover modelos sustentáveis de uso da terra. Áreas protegidas já evitaram cerca de 60% do desmatamento previsto, mas a crise ambiental exige respostas rápidas, planejadas e baseadas na ciência e justiça social.
Proteger as áreas mais valiosas da floresta é proteger o futuro da Amazônia e do planeta.