Brasileiros em Massachusetts intensificaram o uso de grupos de WhatsApp e até drones para monitorar blitzes do ICE durante a operação Patriot 2.0, lançada pelo governo Trump em setembro. A comunidade, estimada em até 300 mil pessoas, compartilha alertas, dicas de segurança e relatos de detenções, enquanto redes de voluntários como a LUCE atuam para documentar prisões e apoiar famílias afetadas. A operação aumentou o clima de apreensão entre imigrantes, que temem abordagens mesmo estando legalizados.
Monitoramento digital e novas estratégias de proteção
Desde o início de setembro, grupos de WhatsApp de brasileiros em Massachusetts tornaram-se centrais para o compartilhamento de informações sobre ações do ICE. Mensagens circulam diariamente, com vídeos, dicas de segurança e relatos de blitzes, especialmente em cidades como Boston, Framingham e Lowell. O mineiro Júnior, criador de um dos grupos, relata que as mensagens começam a chegar às 5h, acompanhando o movimento dos agentes. Entre as orientações, estão evitar falar português em público, não sair com crianças e adotar comportamentos “americanizados”, como usar óculos escuros e adesivos de apoio a Trump nos carros.
Com a intensificação da operação Patriot 2.0, lançada em 6 de setembro, a comunidade brasileira vive semanas de tensão. O governo Trump, por meio do Departamento de Segurança Interna (DHS), anunciou que irá “caçar, prender e deportar” imigrantes ilegais, com expectativa de manter a ofensiva por semanas. Boston, considerada cidade-santuário, tornou-se alvo após sua prefeita, Michelle Wu, se posicionar contra as blitzes migratórias. Segundo o Instituto Diáspora Brasil, o número de brasileiros no estado pode ultrapassar 300 mil, muitos sem documentação.
O uso de drones por moradores de condomínios brasileiros ao noroeste de Boston exemplifica a criatividade das estratégias de defesa. Imagens aéreas ajudam a identificar a presença de agentes e carros suspeitos, permitindo que os residentes evitem sair de casa durante as operações. Cartazes e mensagens animadas circulam nos grupos, incentivando a permanência em casa e alertando para os riscos de detenção mesmo para quem possui green card.
Redes de apoio e voluntariado
Além do monitoramento digital, redes como a LUCE desempenham papel fundamental. Formada por diversas organizações comunitárias, a LUCE recebe ligações de imigrantes denunciando ações do ICE, envia voluntários para verificar e documentar as ocorrências e oferece suporte jurídico e social às famílias afetadas. Lorena Betts, responsável pelo braço em português, destaca que o grupo não interfere no trabalho policial, mas exerce o direito constitucional de documentar as ações. Os voluntários também auxiliam em compras e levam imigrantes a reuniões com advogados.
Impactos da política migratória e desafios para a comunidade
Desde o retorno de Trump à presidência, o número de deportações aumentou significativamente. Segundo o DHS, 400 mil pessoas foram deportadas desde então, com quase 2 mil brasileiros enviados de volta ao país desde fevereiro. O número de imigrantes detidos em centros de detenção chegou a 60 mil, um recorde em relação aos 39 mil registrados no início do governo. A meta do governo é prender 3 mil imigrantes por dia, e a entrada ilegal pela fronteira com o México caiu 92% em relação ao ano anterior.
A política migratória endurecida gerou mudanças de comportamento entre os brasileiros, que agora veem qualquer um como alvo potencial das operações, independentemente de antecedentes criminais. A decisão da Suprema Corte dos EUA, em 8 de setembro, autorizou abordagens com base em raça ou idioma, aumentando a sensação de vulnerabilidade. Muitos relatam medo de sair de casa, perder o emprego ou serem separados de familiares. Mesmo assim, há resistência em retornar ao Brasil, motivada por experiências negativas no país de origem.
Apesar do clima de medo, a esperança persiste de que a operação Patriot 2.0 não se estenda para outubro. A atuação de grupos de apoio e a solidariedade entre imigrantes têm sido fundamentais para enfrentar o cerco, documentar abusos e garantir algum nível de proteção e informação à comunidade.