A União Europeia adiou novamente a meta de zerar as emissões líquidas de gases do efeito estufa até 2035, optando por apresentar uma carta de intenções em vez de um compromisso fechado. O atraso pressiona as negociações da COP30, marcada para 2025, e gera preocupações sobre o avanço global no combate às mudanças climáticas.
A decisão reflete desafios políticos e econômicos internos do bloco e é criticada por especialistas, que temem enfraquecimento dos esforços internacionais.
Adiantamento da meta e contexto político
A União Europeia decidiu adiar a definição da meta climática para 2035, apostando em uma carta de intenções que será apresentada na COP30. A meta de neutralidade de carbono, antes prevista para 2035, agora não tem data definida. O texto divulgado fala em reduzir as emissões entre 66,25% e 72,5% até 2035, comparado aos níveis de 1990.
Segundo especialistas, a estratégia da carta de intenções foi adotada para evitar constrangimentos em reuniões internacionais, como o encontro da ONU em Nova York. O Acordo de Paris exige que os países apresentem novas metas a cada cinco anos, mas apenas 34 dos 195 signatários entregaram suas propostas até agora.
O impasse interno envolve divisões entre países membros sobre salvaguardas para setores dependentes de combustíveis fósseis, compensações externas e novas regras de carbono. França, Alemanha, Polônia, Itália e outros formaram uma minoria bloqueadora, adiando a decisão final para outubro.
Impactos para a COP30 e negociações globais
O adiamento da meta da UE aumenta a pressão sobre a COP30, já que o bloco é visto como líder climático. Analistas alertam que a falta de ambição pode dificultar o consenso internacional e comprometer o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C.
O Climate Action Tracker criticou a faixa de redução proposta, considerada abaixo do necessário para alinhar-se ao Acordo de Paris. A expectativa é que líderes europeus possam elevar as metas na reunião de outubro, pouco antes da COP30.
Repercussão internacional e desafios para o Brasil
O Brasil apresentou sua NDC com meta de reduzir emissões entre 59% e 67% até 2035, mas também enfrenta críticas de ambientalistas, que defendem cortes mais profundos para alinhar-se à ciência climática. O Observatório do Clima aponta que o país deveria buscar redução de 92% em relação a 2005.
Especialistas ressaltam que a União Europeia, como uma das maiores emissoras históricas, tem responsabilidade de liderar a transição global. No entanto, a falta de consenso interno e hesitação nas metas levantam dúvidas sobre sua liderança.
O financiamento climático também é um ponto de tensão. Na COP anterior, a proposta europeia de US$ 200 a 300 bilhões anuais foi considerada insuficiente por países em desenvolvimento. Segundo Andreas Sieber, da 350.org, a credibilidade da UE dependerá de compromissos concretos em financiamento, além de metas técnicas.
Com a decisão final adiada para outubro, a atenção se volta para a capacidade da UE de apresentar uma proposta ambiciosa e influenciar positivamente as negociações em Belém, onde a COP30 ocorrerá.