O relatório anual de direitos humanos do governo Trump, divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA, trouxe críticas duras a países como Brasil e África do Sul, enquanto suavizou consideravelmente a análise sobre aliados como Israel e El Salvador.
O documento, referente a 2024, foi adiado e alterado para se alinhar à doutrina “América em Primeiro Lugar”. Críticos apontam motivações políticas na elaboração do relatório.
Críticas seletivas e omissões
O relatório de 2024 do Departamento de Estado dos EUA criticou fortemente o Brasil, afirmando que a situação dos direitos humanos no país piorou, especialmente após medidas judiciais que, segundo o documento, minaram a liberdade de expressão e reprimiram apoiadores de Jair Bolsonaro. Também destacou piora significativa na África do Sul, alegando discriminação racial contra africâneres e expropriação de terras.
Em contraste, a seção sobre Israel foi consideravelmente reduzida em relação ao ano anterior, sem mencionar a crise humanitária em Gaza ou o número de mortos. Para El Salvador, o relatório afirmou não haver “relatos confiáveis de abusos significativos de direitos humanos”, diferentemente do relatório de 2023, que listava assassinatos ilegais, tortura e condições prisionais severas.
Reações e justificativas
Segundo fontes anônimas do governo, o relatório foi modificado para refletir os valores da doutrina trumpista. Josh Paul, ex-funcionário do Departamento de Estado, criticou o documento, dizendo que priorizou agendas políticas sobre os fatos. A porta-voz Tammy Bruce afirmou que a reestruturação buscou melhorar a legibilidade e eliminar “demandas politicamente tendenciosas”.
Reformas internas e repercussão
O relatório foi elaborado após uma grande reformulação no Departamento de Estado, incluindo a demissão de centenas de funcionários, muitos do Escritório de Democracia, Direitos Humanos e Trabalho. O secretário Marco Rubio publicou artigo defendendo que o departamento se concentrasse em “valores ocidentais”, criticando o que chamou de ativismo de esquerda.
No contexto brasileiro, o relatório criticou tribunais por ações contra apoiadores de Bolsonaro, que está sendo julgado no STF por suposta conspiração para reverter sua derrota eleitoral. O ex-presidente Trump classificou o caso como “caça às bruxas” e defendeu tarifas contra produtos brasileiros.
Na África do Sul, o relatório apontou novos abusos contra minorias raciais e expropriação de terras, acompanhando uma ordem executiva de Trump para reassentar africâneres nos EUA, alegando violência contra proprietários de terras, o que foi contestado pelo governo sul-africano.
Por décadas, o relatório de direitos humanos dos EUA é referência internacional. A edição de 2024, porém, foi alvo de críticas por motivações políticas e omissões em relação a aliados estratégicos.