A COP30, que ocorre pela primeira vez na Amazônia, coloca o Brasil no centro do debate sobre financiamento climático global. O desafio de mobilizar recursos suficientes para enfrentar a crise climática persiste, mesmo após compromissos internacionais e iniciativas nacionais.
Desde a COP15, países desenvolvidos prometeram US$ 100 bilhões anuais, mas a necessidade é ainda maior. Em 2024, foi acordado que US$ 1,3 trilhão anuais devem ser mobilizados até 2035 para apoiar países em desenvolvimento.
Compromissos internacionais e cobranças do BRICS
O compromisso de mobilizar recursos para o clima remonta à COP15 em Copenhague, quando países desenvolvidos prometeram US$ 100 bilhões anuais até 2020 para apoiar nações em desenvolvimento. Apesar de avanços, esse valor ficou aquém do necessário para frear as mudanças climáticas e proteger biomas como a Amazônia.
Durante a COP29, realizada em Baku em 2024, foi estabelecido que os países devem mobilizar pelo menos US$ 1,3 trilhão anuais até 2035, valor considerado fundamental para ações de mitigação e adaptação climática.
Os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) publicaram uma declaração conjunta exigindo que as nações ricas ampliem suas metas de financiamento climático. O documento “Mapa do Caminho de Baku a Belém: US$ 1,3 trilhão” enfatiza a urgência de atingir esse montante até a COP30 e cobra revisão das metas climáticas para 2030, além de emissões líquidas negativas após 2050.
Mobilização nacional e protagonismo brasileiro
No cenário doméstico, a Coalizão Brasil para o Financiamento da Restauração e da Bioeconomia (BRB) já captou US$ 2,6 bilhões para projetos de restauração florestal e bioeconomia, cerca de 25% da meta de US$ 10 bilhões até 2030.
Desde o lançamento da coalizão na Cúpula do G20 em 2024, cerca de dois milhões de hectares de florestas já foram restaurados ou protegidos, com ênfase na Amazônia. As metas incluem restaurar cinco milhões de hectares, capturar uma gigatonelada de CO₂ até 2050 e investir US$ 500 milhões em projetos para povos indígenas e comunidades locais.
Um estudo recente da BRB mapeou 37 organizações indígenas e comunitárias da Amazônia com alto potencial socioambiental, indicando a necessidade de fortalecer fundos comunitários e criar linhas de financiamento de longo prazo.
Mauricio, membro da coalizão, afirma que financiar diretamente comunidades indígenas e ribeirinhas gera resultados extraordinários para a preservação ambiental. “Historicamente, esses povos são defensores dos territórios e o protegem. Fortalecer a permanência dessas comunidades na floresta é essencial”, destaca.
Bianco ressalta o protagonismo do Brasil e a urgência do momento: “A coalizão é uma poderosa demonstração do potencial que o Brasil possui para liderar uma nova era de financiamento climático e restauração florestal. Mas sabemos que ainda estamos no começo. Precisamos ampliar esses investimentos e garantir resultados concretos para preservar a Amazônia, especialmente neste ano histórico da COP30.”