O setor brasileiro de mel pode acumular prejuízo de US$ 53 milhões até o fim do ano devido à tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos. A medida, determinada pelo presidente Donald Trump, já provocou queda de embarques e ameaça a renda de pequenos produtores.
Segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), o volume exportado deve cair pela metade, com impacto direto no preço do produto. O Brasil destinou 79% de suas exportações de mel aos EUA em 2024.
Impactos imediatos e estratégias do setor
A nova tarifa de 50% sobre o mel brasileiro, imposta pelo governo dos Estados Unidos, representa um prejuízo estimado em cerca de R$ 289 milhões na cotação atual do dólar. A Abemel projeta uma redução de 50% no volume exportado e queda de 30% no preço do mel. “Em julho, nossos embarques [para os Estados Unidos] já caíram pela metade. Em agosto, a expectativa é de queda de 80%”, afirma Renato Azevedo, presidente da associação.
O setor busca pressionar o governo Trump, por meio de clientes americanos, para tentar incluir o mel na lista de produtos isentos da tarifa. Em 2024, 79% do mel exportado pelo Brasil teve como destino os Estados Unidos, segundo dados da Abemel.
Exportadoras e pequenos produtores afetados
Entre as empresas atingidas está a Minamel. O diretor Carlos Domingues relata que estoques estão parados e precisarão ser vendidos a preços menores. “Esse já vai dar prejuízo”, afirma. Segundo Domingues, a queda no preço é inevitável e as negociações com importadores agora giram em torno de como absorver o impacto da nova tarifa. “O próprio produtor não tem toda essa gordura para queimar, então eles vão baixar o preço. E baixando o preço, nós vamos ter que baixar no produtor. O problema é: e se for a um preço que não cobre nenhum custo? Aí sim seria uma tragédia”, alerta o diretor.
A produção de mel orgânico no Brasil é majoritariamente realizada por agricultores familiares, especialmente nos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Piauí. No Piauí, a safra 2024/25 já ficou abaixo do esperado devido à falta de chuvas, agravando a situação dos apicultores com o tarifaço.
Janete Dias, gerente da Comapi, cooperativa que reúne cerca de mil famílias produtoras de mel no Piauí, destaca que a queda no preço prejudica diretamente os pequenos produtores. “Vai diminuir muito a renda e, sem renda, não tem apicultura”, diz. Ela ressalta a necessidade de abrir novos mercados para o mel orgânico. Após os Estados Unidos, os principais destinos do mel brasileiro em 2023 foram Canadá (11%) e Alemanha (6%).
O mercado interno absorve cerca de 30% da produção nacional, mas, segundo Janete, “no Brasil não é fácil vender mel, porque o brasileiro não tem a cultura de comer mel”. Ela sugere inserir o produto na merenda escolar do Piauí como alternativa, mas reconhece que a medida não resolveria o problema diante do grande número de produtores. “A gente está aguardando alguma medida que venha a favorecer, porque vai ficar muito complicado.”