Circula nas redes sociais um vídeo que mostra um suposto deputado bolsonarista dando entrevista à GloboNews com esparadrapos na boca, olhos e ouvidos. O conteúdo, porém, é falso e foi criado com inteligência artificial.
A GloboNews e o próprio parlamentar negaram a veracidade do vídeo, que foi desmentido por especialistas e ferramentas de detecção de IA. O material foi publicado no mesmo dia de protestos no Congresso.
Como surgiu o vídeo falso
O vídeo viral mostra um homem de terno e gravata, com olhos, boca e ouvidos cobertos por esparadrapos, aparentemente dando entrevista à GloboNews. A cena simula uma reportagem, com microfone exibindo símbolos antigos da TV Globo e do g1, enquanto o suposto deputado emite apenas ruídos. A legenda no X afirma: “Agora: deputados que obstruíam as votações da Câmara e se diziam censurados fazem grave denúncia na GloboNews.” O perfil responsável descreve-se como “metade piada, metade reclamação”.
O vídeo foi publicado em 5 de junho no Bluesky e no X, acumulando mais de 400 mil visualizações. A peça foi criada para satirizar e criticar o posicionamento político do parlamentar, mas não corresponde a fatos reais.
Verificação e reação
A GloboNews negou a existência da entrevista e especialistas em tecnologia confirmaram que o vídeo é um deepfake gerado por inteligência artificial. O Fato ou Fake submeteu o conteúdo ao SynthID Detector, do Google, que detectou uso de IA. O termo “VEO”, ferramenta do Google para vídeos ultrarrealistas, aparece no canto do vídeo.
Diante da repercussão, o autor do perfil no X esclareceu que o vídeo foi criado com inteligência artificial, apontando para o logo do VEO.
Contexto dos protestos e repercussão
O vídeo falso foi publicado no mesmo dia em que deputados e senadores da oposição ao governo realizaram protestos no Congresso Nacional. Eles reagiam à decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que determinou prisão domiciliar para o ex-presidente Jair Bolsonaro e pressionavam por anistia aos acusados do 8 de Janeiro. Nos plenários, parlamentares colaram esparadrapos na boca como forma de protesto e exigiram que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, pautasse pedidos de impeachment contra Moraes.
As sessões da Câmara e do Senado previstas para aquela terça-feira foram canceladas. O presidente da Câmara, Hugo Motta, anunciou o encerramento da sessão e prometeu reunião de líderes para discutir a pauta. Alcolumbre criticou a mobilização, classificando-a como “exercício arbitrário das próprias razões” e pediu “serenidade” e “espírito de cooperação”.
Segundo definição do Congresso, obstrução é o uso de meios regimentais para protelar ou evitar votações. Ao ocupar fisicamente a Mesa Diretora, deputados e senadores agiram fora desses instrumentos, impedindo as atividades legislativas.