A infraestrutura essencial da inteligência artificial depende de minerais críticos e energia, elementos que sustentam desde a fabricação de equipamentos até o funcionamento de data centers.
Essa dependência intensifica disputas geopolíticas, especialmente entre Estados Unidos e China, e impõe desafios ambientais e sociais diante da crescente demanda global.
Geopolítica dos minerais críticos e energia
Minerais como terras raras são indispensáveis para a produção de componentes eletrônicos usados em IA. O controle desses recursos tem impacto direto na geopolítica global. Data centers, fundamentais para a IA, consomem grandes volumes desses minerais, acirrando a disputa entre Estados Unidos e China. Em 11 de junho, Donald Trump anunciou acordo com a China para entrada de estudantes chineses em universidades americanas em troca do fornecimento de minerais de terras raras. Simultaneamente, os EUA pressionaram a Ucrânia por acesso preferencial a esses minerais, condicionando apoio na guerra contra a Rússia à assinatura do acordo.
A China domina a extração e refino de minerais como antimônio, gálio, germânio e terras raras, enquanto os EUA lideram a manufatura de equipamentos de IA. Desde 2018, ambos impõem sanções e restrições comerciais. Em 2023, os EUA proibiram a venda de chips avançados à China, culminando na suspensão completa da exportação de chips para IA em novembro de 2024. Como resposta, a China restringiu exportações de minerais críticos.
Data centers e ciclo de vida curto
Existem cerca de 12 mil data centers no mundo, sendo 992 de hiperescala. O “The Citadel Campus”, em Reno (EUA), ocupa 669 mil m². A fabricação de servidores, redes e sistemas de armazenamento exige minerais como gálio, germânio, silício metálico, tântalo, cobre, prata e ouro, a maioria extraída no Sul Global. A produção de dispositivos eletrônicos pode demandar de 50 a 350 vezes o peso final do produto em matérias-primas. O ciclo de vida curto dos equipamentos, substituídos em dois a cinco anos, agrava a pressão sobre a extração mineral e gera riscos ambientais pelo descarte frequente de hardware.
Consumo energético e sustentabilidade
O funcionamento da IA consome muito mais eletricidade que serviços digitais convencionais. Uma interação com o ChatGPT pode gastar até dez vezes mais energia que uma busca no Google. Segundo a Agência Internacional de Energia, data centers, criptomoedas e IA consumiram 460 TWh em 2022, 2% do consumo global. A previsão para 2026 é de até 1.050 TWh. Nos EUA, data centers já respondem por 4% da demanda elétrica, podendo chegar a 9,1% em 2030. A Bloomberg aponta que a demanda energética já supera a oferta em várias regiões, elevando tarifas e gerando riscos de apagão.
Fontes renováveis e novos desafios
Empresas como Amazon, Google e Microsoft investem em energia solar e eólica para suprir suas infraestruturas, mas essas fontes também dependem de minerais críticos. Uma usina eólica pode exigir até nove vezes mais minerais que uma a gás; projetos offshore, até quinze vezes mais. Para suprir a demanda prevista de 35 GW dos data centers americanos até 2030, seriam necessários cerca de 50 milhões de painéis solares. O avanço da IA, portanto, amplia a pressão sobre a extração mineral e impõe desafios ambientais, sociais e econômicos.
Compreender essas inter-relações é essencial para que sociedade, governos e empresas avaliem os custos e promovam estratégias para enfrentar os desafios da expansão acelerada da inteligência artificial.