O Brasil sedia neste domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, a cúpula do Brics, grupo que enfrenta desafios devido a guerras, disputas comerciais e novos membros. O país tenta evitar uma guinada anti-Ocidente, segundo especialistas. A expansão do bloco, com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã, fortalece sua influência, mas acentua tensões internas.
Neutralidade brasileira sob teste
O Brasil historicamente adota uma postura de neutralidade ativa em conflitos internacionais e prioriza o multilateralismo. Especialistas destacam que essa tradição será posta à prova na mediação de interesses diversos dentro do Brics. Evandro Carvalho, professor da FGV, ressalta: “Mesmo durante a ditadura, o Brasil manteve relações com Rússia e China. Mais do que rotular o país como antiocidental, é preciso observar que, no plano doméstico, o Brasil sempre esteve mais próximo do Ocidente”.
Segundo Carvalho, o momento atual exige habilidade para dialogar tanto com democracias quanto com governos autoritários, como Rússia, China e Irã.
Expansão do Brics e riscos
A entrada de novos membros amplia a influência global do bloco, mas também traz riscos de que alguns países usem o grupo apenas para obter vantagens estratégicas. Cristina Pecequilo, professora da Unifesp, alerta: “A expansão é positiva para dar mais representatividade ao Sul Global, mas também pode atrair países que buscam apenas benefícios estratégicos, sem compromisso com a cooperação”.
Especialistas comparam a situação à Hungria na União Europeia, que adota posturas desalinhadas dos valores centrais do bloco.
Moeda comum e tensões com os EUA
Um tema sensível é a proposta de criação de uma moeda comum para transações comerciais entre os países do Brics, liderada pela China, com o objetivo de reduzir a dependência do dólar. Essa iniciativa pode aumentar o atrito com os Estados Unidos. Rodrigo Amaral, professor da PUC-SP, avalia: “É um movimento estratégico, e tende a crescer com as recentes tensões tarifárias entre países do Brics e os EUA. Ainda está em estágio inicial, mas é uma sinalização forte”.
O papel do Brasil
A expectativa é que o Brasil atue como mediador, reafirmando sua tradição diplomática de moderação e equilíbrio, mesmo diante de conflitos e interesses opostos. O país deve defender o multilateralismo e o desenvolvimento sustentável. “Este é o momento de o Brasil se posicionar com firmeza, sem radicalizar, mantendo a tradição de diálogo e pragmatismo na política externa”, afirma Carvalho.