As recentes enchentes no Rio Grande do Sul causaram destruição em plantações, danos em estradas e fechamento de comércios de alimentos, afetando a oferta e elevando preços.
Autoridades estaduais e federais implementam medidas emergenciais, mas especialistas alertam para a necessidade de políticas de adaptação às mudanças climáticas.
O impacto atinge principalmente comunidades vulneráveis, agravando a insegurança alimentar e dificultando o acesso a alimentos frescos.
Impactos das enchentes na produção e distribuição
As fortes chuvas e inundações das últimas semanas destruíram plantações, prejudicaram colheitas e danificaram a infraestrutura rural, como estradas e pontes. Isso dificultou o acesso dos produtores aos mercados e centros de distribuição, agravando a crise climática e afetando diretamente a produção agrícola.
O volume de chuva acumulado em algumas regiões ultrapassou 350 milímetros, afetando ao menos 125 municípios até 21 de junho, com mais de 6 mil pessoas desalojadas, 1.300 em abrigos e três mortes confirmadas. Rios como o Jacuí e o Taquari transbordaram, comprometendo estradas, pontes e acessos, e revelando a fragilidade das estruturas urbanas e logísticas.
Consequências para abastecimento e preços
Com a redução da oferta de alimentos devido às perdas na produção e aos problemas logísticos, os preços de diversos produtos agrícolas aumentaram, pressionando a economia local e afetando o consumidor final. Um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostrou que cerca de 16% dos estabelecimentos que vendem alimentos foram atingidos, resultando em mais de 15 mil pontos de venda fechados ou danificados em 92 cidades.
O impacto foi mais severo em municípios pequenos, onde quase metade do comércio de comida ficou submerso. Locais que vendem alimentos frescos, como hortifrutis, açougues e peixarias, foram os mais prejudicados. Quase 30% das peixarias ficaram inoperantes, agravando a situação em áreas já classificadas como desertos alimentares.
Desafios para a segurança alimentar e reconstrução
A redução da oferta de alimentos frescos, somada à inflação de cerca de 40% nos preços de alimentos e bebidas entre 2020 e 2023, favoreceu o consumo de produtos ultraprocessados e elevou o risco à segurança alimentar, especialmente em comunidades economicamente vulneráveis.
Muitas famílias afetadas perderam eletrodomésticos, dificultando o armazenamento e preparo de alimentos in natura, o que intensificou a busca por produtos prontos ou não perecíveis. A reconstrução do comércio alimentar tem ocorrido de forma desigual: áreas de maior renda se recuperam mais rápido, enquanto periferias enfrentam dificuldades para reabrir pontos de venda e reabastecer estoques.
Especialistas destacam que eventos extremos como enchentes devem se repetir devido ao aquecimento global. É urgente fortalecer a produção local, diversificar cadeias de fornecimento e implementar planos de emergência para garantir o direito humano à alimentação adequada em situações de tragédia. Incluir o abastecimento de alimentos nos planos de resposta a desastres é fundamental para aumentar a resiliência das comunidades vulneráveis diante de futuros eventos extremos.